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José Roberto Sagrado da Hora

Combate ao racismo.

Este espaço virtual é uma plataforma de apoio na luta contra o racismo. Neste Blog vamos repercutir, refletir e discutir notícias e textos autoriais, próprios ou não, no sentido de esclarecer, aglutinar e mobilizar pessoas contra o racismo que, afinal, envolve não apenas a população negra, mas principalmente a população branca. O Brasil é um país onde negros e indígenas são a maioria da população. Nosso país, entretanto, foi estruturado social, política, cultural e economicamente a partir da violência colonial física e moral, contra a população negra e indígena ao mesmo tempo que concedia privilégios à população branca, (no sentido de atraí-las ou fixa-las em determinado local). Com a chegada da República foi adotado como Política de Estado o branqueamento, criminalização de sua cultura e a deliberada exclusão da vida social e econômica das populações não brancas. A distribuição dos papéis sociais e condições socioeconômicas das populações de não brancos e brancos comprovam isto. Não vivemos em uma democracia racial, por isto não basta sermos contra o racismo, precisamos ter uma atitude antirracista. A luta contra o racismo precisa substituir a naturalização ou negação de sua existência assim como ser incorporada pela sociedade como um todo.
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Resistência à extrema direita

Este Blog é também um muro, resistência e defesa das populações racializadas e/ou distintas do ideal eurocêntrico contra o avanço da extrema direita e suas “verdades”. Estamos assistindo no mundo todo o aumento reacionário da pregação de valores derrotados na 2ª Grande Guerra ao custo de pelos menos 60.000.000 de vidas humanas. Na França entre a extrema direita há os “anti-Gaulle“, “ultranacionalistas”, descendentes ressentidos dos “colaboracionistas”. Na Alemanha há os “Reichsbürger” (cidadãos imperiais em tradução livre). No Brasil esta linha de pensamento é defendida por parcela numericamente tristemente relevante que aceitam conviver com supremacistas brancos, radicais religiosos, negacionistas de toda a ordem, grupos de extermínio e justiceiros, skinheads, machistas, (Red Pill), homofóbicos e outros. Sabemos onde o extremismo da direita nos leva. As causas da segunda guerra mundial não foram apenas as convicções nacionalismo exacerbado, nem o sentimento de revanchismo em relação a primeira segunda guerra e tão pouco expansionismo germânico, porque embutido nestas crenças havia a ideia de superioridade alemã - era preciso criar um espaço vital para os arianos. Não. Não era apenas uma questão política/econômica/territorial, portanto, havia um uma causa tão importante quanto as outras que era o racismo que já fazia sucesso em muitos países, (inclusive no Brasil de Getúlio Vargas) através de uma ideologia (que se pretendia científica) denominada Eugenia. Enquanto no Ocidente, da época, se afirmava que os seres humanos brancos eram superiores a todos os outros, na Alemanha estava sendo proposto que mesmo entre os brancos havia uma escala hierárquica onde arianos estariam no topo, claro, acima de saxões, gauleses, eslavos, etc... O racismo então posto prática cruamente foi a principal causa para aliança. O consenso branco estava quebrado. A Academia/ciência/erudição branca, colonizadora e eurocentrista transformou a causa principal em contingente. Não Vamos silenciar, não vamos ficar inertes, desta vez vamos resistir desde o começo.

Novidades, crônicas e notícias em geral

Percurso de consciencialização

data Maio 19, 2025

Venho aos senhores para informar que estou retornando a postagem de minhas reflexões nas redes sociais. Ao longo de meus últimos quarenta anos tendo dedicado meus esforços intelectuais, principalmente, ao esclarecimento do que seja racismo e à conscientização e sensibilização do mal que esta estrutura social causa enquanto perpetuador das desigualdades artificiais entre seres humanos.

Insisto com a tecnologia, no entanto, porque esta revolucionaria forma de comunicação ampliou por demais o alcance e a velocidade com que chegamos ao outro. Assim, sem que percamos de vista a relevância e confiabilidade das tradicionais formas de comunicação tais como as publicações físicas, presenciais, audiovisuais, digitais (incluindo órgãos de imprensa) e mesmo palestras, seminários, grupos de discussão e aulas presenciais – onde sempre podemos questionar as fontes – precisamos das redes sociais.

Combater a ideia de racialização entre seres humanos, muitas vezes, nos impõem desvio de foco para assuntos que parecem distantes do assunto principal, quando, em verdade são correlatos e obrigatórios para a causa. Foi o que ocorreu com o crescimento do movimento que ficou conhecido como Bolsonarismo. Esta foi uma agenda que pode ter sugerido que eu tenha me desviado do embate principal. Não foi assim. Bolsonarismo é principalmente o racismo à moda brasileira em diversas dimensões. Quando você não reconhece a desigualdade criada artificialmente entre descendentes europeus e os demais, não quer o fim da desigualdade entre populações de brancos e não brancos, não quer acolher ou alavancar as populações postas à margem, de quem estamos falando?

A desigualdade na obtenção de recursos para sobrevivência e uma vida melhor em um território não tem origem biológica e tão pouco é uma ordem divina, mas, a negação de oportunidade em meio e sim a não.  Os negros, no Brasil, por exemplo, são maioria nas favelas, nos presídios e em todos os trabalhos mal remunerados e postos secundários no mercado de trabalho e no Poder em percentuais superiores à sua quota de representação na população total. Em outra quadra, esta mesma população é minoria absurdamente desproporcional ao percentual que representa na população brasileira quando falamos sobre todas as esferas de comando e de visibilidade, (públicas e privadas) ou nos espaços de oportunidade como as melhores escolas de cada cidade, nas melhores Universidades do país. Vale dizer a Educação. A saúde e a Segurança Pública são distribuídas conforme a cor da pele

A condição de inferioridade socio/econômica da população de não brancos é resultado de um projeto bem sucedido das elites dominantes que se valeram das ferramentas de privilegiar pessoas brancas; criminalizar alguns aspectos do comportamento, da cultura e das manifestações religiosas da população negra; estigmatizar corpos negros, de asiáticos e de povos originários e; abandonar a própria sorte pessoas não brancas. Estes instrumentos de dominação, muitas vezes, foram utilizados concomitantemente. A origem das desigualdades entre brancos e não brancos no Brasil estão comprovados e documentados por diversos estudiosos.

Srs. Brancos, por favor, não digam que vocês não têm nada com isto. A indiferença, o deliberado desconhecimento do assunto, a negação da existência de uma causa injusta para a desigualdade, o silencio, são atitudes racistas que contribuem poderosamente para que esta estrutura permaneça nas sociedades Americanas. É muito clara a conveniência em não “enxergar” o racismo.

Europa e a Ásia não estão livres do racismo e outros fenômenos sociais discriminatórios, mas, já não os aceitam nem mesmo nas formas disfarçadas. Na Alemanha, por exemplo, nazistas não são somente aqueles que assim se autodenominam, mas todos aqueles que acharam que estavam desempregados e pobres por causa dos judeus; todos os que apoiavam Hitler por uma mudança econômica relevante, ou seja, não só os que agiram ou se manifestaram, mas também os que aquiesceram, os que foram indiferentes, os cegos por conveniência.

Na mesma Alemanha pós II guerra existe o temor generalizado de que extremistas assumam o governo, afinal nenhum outro lugar conhece bem os perigos que a democracia corre quando extremistas chegam ao poder.  Está nos jornais de agora, maio de 2025, que a agencia de inteligência doméstica da Alemanha (Gabinete para proteção da Constituição – BfV) classificou o partido ‘Alternativa para a Alemanha’ (AfD – 2ª força do parlamento alemão) como de extrema direita, sob o argumento de que a natureza deste grupo extremista desconsidera a dignidade humana. Com a mesma atualidade podemos conferir as manifestações do Primeiro Ministro da Espanha Pedro Sánchez sobre extremistas de direita.

Se as pessoas querem defender seus posicionamentos políticos a partir da armadilha do dualismo entre a esquerda e direita, sugiro que pensem nesta dicotomia a partir de sua origem histórica. Com efeito, a partir da notícia (ou versão) de que os membros da Assembleia Nacional na França de 1789 a 1799 se dividiam, no parlamento, entre partidários do rei, sentados à direita do presidente da assembleia e os simpatizantes da revolução à sua esquerda, difundiu-se os termos direita e esquerda com significado político, antes utilizados como termos geométricos e geográficos.

Estes posicionamentos geográficos, a partir da referência da posição central do Presidente da Assembleia Nacional, identificavam os representantes do clero e da nobreza, sentados à direita, que queriam manter o Rei e seu reinado absolutista intactos. Os representantes da burguesia, dos camponeses e das classes urbanas (que viviam na miséria), sentados à esquerda, exigiam mudanças tais como Constituição, fim da escravidão nas colônias, poder legislativo, fim dos privilégios. Então, podemos concluir que é muito mais coerente designarmos a direita como conservadores e a esquerda como reformadores ou progressistas emprestando, assim, conteúdo político a estas palavras.

 Na Américas e especialmente no Brasil, a História tem papel decisivo no esclarecimento do posicionamento das pessoas que se autodenominam conservadoras. Em momentos importantes para as sociedades de cada país americano incluindo, claro, o Brasil conseguimos localizar de que lado estavam os conservadores. Sem qualquer esforço ou grandes pesquisas verificaremos que aquele grupo social que era contra a abolição da escravização de pessoas negras, contra o voto feminino ou contra a previdência social (assim foi no mundo todo), em verdade, querem, apenas, manter a estrutura que os beneficia, sustentar as posições atuais e a vantagem competitiva que possuem em relação aos demais.   

Os reformistas ou progressistas são o resto. Todos os que quiserem transformar a dinâmica social que flexibilize ou relativize o poder e privilégios da parte da população socialmente dominante é um reformador e por assim dizer um indesejável. Observo que mesmo as mudanças inexoráveis como a científica (vacinas, por exemplo) ou da natureza (aquecimento global ou extinção de comodities, são exemplos) mudança climática são vistas como ameaças provocadas ou ampliadas por pessoas que querem subtrair as condições de existência da população privilegiada. Daí o porquê defender a dualidade esquerda e direita é uma falácia, sendo mesmo uma bobagem. Penso que devemos defender causas estruturantes da vida social solidária. A social democracia dos principais países europeus e escandinavos atendem esta demanda e estão muito longe dos dois extremos apontados antagonicamente como solução.

Defendo o fim das desigualdades artificiais, assim entendido como aquelas criadas socialmente. Nas Américas isto significa lutar contra o racismo. Qualquer partido ou proposta política que defenda a diminuição estas desigualdades tem, em princípio, a minha simpatia. No Brasil, a população originária e negros sempre foram tratados como cidadãos de segunda classe e todos os indicadores sociais demonstram.

Bolsonarismo, por sua liderança abertamente sustenta que combater o fim das desigualdades não é sua pauta, sendo aliás, pauta da esquerda. Este grupo que nas últimas eleições presidenciais conseguiu unificar os chamados conservadores não é a direita e com ela não pode ser confundida. Em fato, trata-se da extrema direita. Tanto que todos os históricos pensadores de direita brasileiros negam vinculação com o bolsonarismo. Todas as tradicionais organizações que defendem pensamento de direita rejeitam o bolsonarismo. Vejam, por exemplo, o editorial do Estado de São Paulo de 11 de maio de 2025, p. A3. Neste passo, necessários se faz observar que tradicionais pensadores e organizações brasileiras de direita se posicionam a favor do combate às desigualdades raciais, inclusive com políticas afirmativas.

 Enquanto isto, bolsonaristas negam a existência de minorias, assim como que tenham direitos a proteção especial. Odeiam a esquerda, mas não conseguem identificar o que ou qual esquerda se referem, até porque com referência a extrema direita todo o resto é esquerda. Falam do comunismo como se ele tivesse no cenário mundial, pior, acreditam em uma teoria da conspiração em que o comunismo iria dominar o mundo, através da cultura. Totalitaristas, querem concentrar os Poderes da República em um único grupo de pessoas. Aceitaram, sem ressalvas, sem questionamentos, entre seus seguidores os neonazistas, supremacistas brancos, grupos antivacinas, grupos clandestinos de ódio, grupos misóginos (RED Pill, INCEL- Involuntary Celibate). A mentira e desinformação são transformadas em instrumentos e estratégias válidas para a obtenção do poder, reescrevendo a ética e a moral a partir da ideia de que vale tudo. Os fins justificam os meios.

A liderança deste movimento gravou live (audiovisual ao vivo) em suas redes sociais tomando leite puro para agradar seus simpatizantes supremacistas brancos. Presente em um quilombo humilhou e agrediu negros, a negritude, a dignidade da história negra no Brasil ao referir-se a um quilombola como quem não servia nem como “reprodutor”. Deu a península de Alcântara (Maranhão) aos Norte-Americanos), ignorando as reivindicações das comunidades quilombolas do local (só não se concretizou porque deputados Negros norte-americanos impediram o desfecho prejudicial ao povo negro brasileiro). Por isto, é muito difícil entender negros e negras e seus descendentes, (mulatos, morenos, pardos ou qualquer outro mestiço envergonhado), no contexto brasileiro, se dizerem conservadores. Muito mais extraordinário ainda quando se declaram bolsonaristas.

  As pessoas brancas tem os privilégios (e a transmissão deles aos seus descendentes) a proteger por mais imoral e injusto que isto nos pareça, por mais que não aceitemos essa normalização conseguimos alcançá-la cognitivamente. Mais fácil de entender quando descobrimos que o “privilégios branco” nem sempre é óbvio e muitas pessoas não sabem que são beneficiárias. Não brancos tem o egoísmo e o seu próprio desconhecimento da história e da dinâmica colonialista, qual seja, a tecnologia de dominação territorial e cultural (racialização e racismo) que nos impôs a colonização Europeia. Devem acreditar egoisticamente, por autopreservação talvez, que não sejam negros ou descendentes e até que estejam sendo acolhidos entre conservadores, mas, sua função neste meio é servir como argumento, como mascote.

A volta de nossas reflexões às redes é continuar o combate ao racismo e a todos os movimentos que o sustentam. As redes sociais relacionadas com Sagrado da Hora não tem interesse financeiro ou em notabilidade. O objetivo aqui é disseminar o letramento racial, a história do Brasil com a participação do negro, elucidar brancos e negros quanto à estrutura racista estabelecida nas Américas. Queremos principalmente sensibilizar, conscientizar, quanto a racialização, o racismo e sua permanência nas estruturas sociais das Américas, especialmente no Brasil. Defendemos que todos devem lutar contra o racismo e os movimentos sociais e estruturas organizacionais que simpatizam com a racialização.

Para isto foram criados os perfis ligados a Família Sagrado da Hora. As postagens nestes perfis de mensagens favoráveis ao racismo e aos movimentos que o defendem ou o normalizam atrapalham a finalidade deste grupo. Assim, esclarecemos nossas razões por muito respeito que temos por cada um e por todos, mas queremos que parem de postar em nossas redes, nossos perfis apoios aos racistas, as teorias negacionistas do racismo, movimentos e organizações racistas. Permita-nos continuar em nosso propósito de emancipar o povo diaspórico. Se você é descendente de um viajante do navio negreiro, saiba que especialmente as suas manifestações favoráveis aos movimentos racistas, (bolsonarismo, por ex.), causam grande constrangimento e o memo calafrio que os nossos ancestrais sentiam quando percebiam a presença nas senzalas, nas minas e nas grandes plantações de um capitão do mato.

maio de 2025, José Roberto Sagrado da Hora.

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